quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Sobre famílias, amigos e coisas que tais...

Conhecem-se uns aos outros num outono, quando se encontram em plena primavera da vida. Trazem nos bolsos os trocos contados, na cabeça as recomendações de quem os vê sair de casa pela primeira vez, e no coração a ambição de mudar o mundo. 


Muitas vezes, conhecem-se apenas a si mesmos - isto quando a adolescência não lhes pregou partidas.
Vêm com o entusiasmo da primeira casa que não seja a dos pais e com a curiosidade típica de quem, aos 18/ 19 anos, só quer mesmo explorar o mundo.


Conhecem colegas de curso, de casa e de copos.
Experimentam juntos os limites impostos e criam laços.
Vivem uma montanha russa de emoções e de experiências. Acumulam conhecimento e dúvidas, curiosidades e certezas. Perguntam por tudo, questionam tudo - até a própria existência.

No processo, não percebem o quanto crescem.

Os miúdos tornam-se adultos quase sem dar por isso. 
Criam, amadurecem e perdem convicções, mas cada vez mais só depois de amadurecerem bem as situações. Perde-se a impulsividade da adolescência, conhecem a ponderação que os "vintes" trazem.

E, no processo, não percebem o quanto crescem.

Despertam para o fim do percurso académico como quem acorda pela manhã de um sono bem profundo.
Ensonados, desorientados e a querer voltar para o sonho que estavam a ter.
De repente, sem saber bem como, apercebem-se da efemeridade de tudo o que até então viveram.
E do bom que tudo foi.

É aqui que a vida, tão depressa como os juntou, os volta a separar. E põe à prova.

Uns, sedentos de mais conhecimentos, não largam os bancos das universidades e percorrem o mundo em busca do que ainda não sabem. 
Outros, dão a etapa por terminada e, após momentos - ou semanas, meses ou anos - de introspecção, decidem que querem continuar a mudar o mundo.
Ainda outros, seguem a corrente e aventuram-se pelo mundo (o seu e o dos outros) em busca de um futuro que lhes comece a dar estabilidade a curto prazo.

Fazem promessas e juras de sangue em como vão manter o contacto.

Confirmam números de telefone e "amizades" nas redes sociais.
Mal sabem que raramente voltarão a juntar a família. Essa família que apenas em parte escolhemos; essa família que, sem ser de sangue, é de afectos e de experiências.

Agora as reuniões já não obedecem aos critérios dos calendários académicos. Já não se conta cada pessoa como uma só, porque alguém já tem o seu alguém também. Reúnem-se em pontos diferentes do país. 
Os motes são casamentos, baptizados, um qualquer evento importante na vida de alguém. 

E é aí que reconhecemos que, aquelas pessoas com quem partilhámos choros, risos e noitadas, são as mesmas que sempre vamos querer ter por perto o resto da vida.

07/09/2017

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